No fim de semana passado nós fomos pro Rio! Fizemos dois shows cheios e muito emocionantes num teatro no Botafogo, chamado Espaço Furnas Cultural.
Essa viagem também nos proporcionou uma experiência e uma troca maravilhosa com a cidade: Visitamos o morro de Santa Marta! Mais especificamente, tivemos a oportunidade de tocar com os alunos e professores da ONG Atitude Social, uma organização que está completando 15 anos de existência (e resistência).
Chegamos por volta das 11h30 no último espaço que dá pra chegar de carro, a partir dali pegamos um bonde (um elevador diagonal/funicular) e descemos mais próximos do nosso destino, junto com a gerente da ONG, Leslie Figueiredo.
Tem uma estátua do Michael Jackson de bronze no mirante/praça e por pura ignorância minha, não sabia que a favela de Santa Marta tinha sido visitado pelo MJ nos anos 90, para a gravação do clipe de “They don’t really care about us”. Ali, nessa mesma pracinha, nós e o pessoal da ONG montamos os equipamentos pra nossa pequena apresentação.
Quando chegamos, “Pierre” (sim, de “Robespierre” – como não gostar de uma pessoa com esse nome?) nos recebeu enquanto terminava de cozinhar nosso almoço, achei isso especialmente afetuoso. Receber pessoas novas e comer junto, dividir a mesa… além da preocupação em preparar uma refeição vegetariana pra gente! Almoçamos junto com o casal e alguns dos alunos e professores, num espaço que é a biblioteca da Ong (diga-se de passagem: Coisa mais linda ter uma biblioteca lá).
A Ong Atitude Social funciona num espaço chamado “Casa de Cultura Dedé”, e Pierre nos contou que antigamente lá era um ambulatório. Esse nome “Dedé” vem de um antigo morador que era o “faz-tudo” da favela, consertava e arrumava tudo pra todo mundo lá, até um dia que sofreu um acidente num de seus consertos e morreu pela demora na chegada do atendimento. Daí os moradores construíram a Casa, detalhe especial que foram as mulheres da comunidade que trouxeram todo o material de construção, no braço!
Marano, que não pode ver um batuque, já se juntou às crianças e elas ensinaram uma batida pra ele e pro Gaus e ficaram lá “estourando os tímpanos” por quase uma hora… a potência das batucadas é mesmo algo maravilhoso, espero que eu nunca deixe de me impressionar com isso.
Então, sem pressa, ignorando toda as nossas neuras com horários e afins, subimos na praça e fizemos nossa apresentação. Foi lindo ver o carinho e atenção deles (fico refletindo sobre o quanto isso que fazemos e falamos conecta com o que eles vivem e pensam, enfim, isso acho que é uma discussão bem profunda sobre a função da arte, né?).
Já perto do final da nossa apresentação, começaram a trazer os tambores para a praça (foi uma tarde de apresentações dos alunos também) e nós, bem metidos, convidamos eles pra participarem com a gente de Oração. Foi bem bonito bem forte e um momento de conexão e troca muito importante pra todos ali!
O Rio de Janeiro tem muitas peculiaridades e o morro é a maior delas. Em poucos minutos, você sai de um ambiente urbano (ruas, carros, placas, prédios públicos etc etc) e entra numa sociedade completamente diferente. É difícil compreender a complexidade do morro: milhares de casas e vielas, construídas a tijolos e cimentos, num lugar onde não se chega de carro – como que se levanta uma cidade dentro de outra cidade? É uma sensação de estar numa ilha, apertadinho, ao mesmo tempo que você olha pra baixo e vê uma cidade inteira que também é apertadinha. Você vê o rio de janeiro acontecendo lá embaixo, de um camarote que mistura a sensação de onipotência com impotência. E a vida acontece lá no Santa Marta, maravilhosamente, dignamente, resistindo e independente de um monte de coisas que a gente sentiria pânico de sermos privados. Não deve ser fácil, mas a gente também não consegue entender muito bem o porquê de ser difícil. Só sabemos que isso vai ficar marcado na gente. Voltamos pra casa torcendo pela ONG, pela Leslie, pelo Pierre, pelos professores e sobretudo por todas aquelas crianças!
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