6 anos atrás
Quando a banda começou, em janeiro de 2009, éramos oficialmente eu, Uyara e Thiago Chaves. Logo após o primeiro show, em Paranavaí, o Thiago decidiu abandonar seu lugar na banda como cantor e guitarrista, o que aceitamos com uma dorzinha no coração, já que ele foi uma figura importantíssima no início da banda, já que esteve presente ativamente na criação dos primeiros arranjos, no primeiro repertório que tivemos… (e o mesmo posso dizer sobre nosso primeiro baterista, o Gleyson Menegucci, que participou dessa primeira fase muito ativamente!). Mas tivemos que aprender que uma banda é um lugar onde todos precisam estar sintonizados e satisfeitos, somos seres humanos passíveis de mudar nossas vontades, nossos direcionamentos de vida e isso tudo se torna ainda mais instável quando temos que compartilhar isso com mais 2, 3, 4 pessoas…
Daí, após esse baque inicial, assumimos o Diego Plaça como “baixista oficial” (ele participou do primeiro show só como um “músico participante”), e decidimos seguir sem guitarrista oficial, já que a banda era “pretensiosamente bem despretensiosa”. Nos poucos shows que seguiram, começamos a usar o Rodrigo Lemos como nosso “guitarrista de luxo”, por ele estar bem próximo a nós na época – estávamos num momento muito especial em Curitiba, com a banda dele acabando (a maravilhosa “Poléxia”) e iniciando seu novo projeto (solo, intitulado Projeto Lemos, do qual eu tenho orgulho de ter feito parte, e depois dando origem ao atual “Lemoskine”), várias bandas e artistas lindos fazendo seus shows e discos, olha, 2009 a 2011 foi uma época muito fértil e, na minha opinião, foi graças à ela que aconteceu o que aconteceu com nossa banda (Mas não foi sobre isso que vim escrever).
Daí então corta a cena, vamos pra 2013 e gravamos nosso segundo disco (O Mais Feliz da Vida). O processo desse disco não foi muito fácil. Estávamos discordando bastante quanto às decisões estéticas da produção do disco, foi uma fase bem complexa em vários outros aspectos também (lembro a gravação acontecia em meio à todas aquelas manifestações “apartidárias” que estavam se iniciando no país, que horrendamente deu origem ao MBL, Vem Pra Rua, Impeachment de Dilma e frustrou muito a esperança que tínhamos de ser um país mais politizado).
Esse processo complicado que vivemos na produção desse disco (obviamente somado à questões individuais de cada um) culminou na saída de outros dois integrantes da banda: Diego Plaça decidiu abandonar seu posto (o que doeu muito já que ele participou muito na produção dos arranjos – eu, como produtor, que o diga…), e chamamos o Marano pra assumir o baixo (nosso amigo dos tempos da banda “Nuvens”, que eu e Luís fizemos parte anos antes); e também Rodrigo decidiu sair para se dedicar à outros projetos (tanto o seu “Lemoskine”, que caminha lindamente, quanto outros projetos pontuais que ele precisaria de mais dedicação). Na mesma conversa que o rô nos comunicou sua decisão, ele já indicou Thiago Ramalho para assumir seu posto e imprimir sua identidade na sonoridade da banda.
Conversamos com o Thiago que topou mas deixou claro que tinha um projeto dele acontecendo a pleno vapor (Trombone de Frutas), o que aceitamos perfeitamente, até consideramos saudável que fosse assim. Thiaguinho chegou na banda pra deixar tudo mais leve, mais divertido, menos sério, mais à vontade. Os problemas técnicos e musicais nos shows não eram mais estressantes, eram até engraçados. Essa leveza que ele tem na vida ajudou muito a banda a tomar um novo fôlego pra mergulhar de novo: gravamos um DVD ao vivo, fizemos centenas de shows, viajamos várias vezes pela América Latina, turnês no Nordeste, e por fim gravamos um disco novo, onde ele, enfim, pôde imprimir sua identidade num registro oficial conosco. Esse disco é o meu preferido, sem dúvidas, e tem muito Thiaguinho ali. Foi uma época maravilhosa que tivemos com o Thiaguinho com a gente, mas como nada é pra sempre, ele também decidiu que era hora de deixar as guitarras e se dedicar às coisas que ele sempre quis e não podia, pelo tempo que a banda mais bonita demanda.
Essa saída nos fez questionar se a gente deveria ter um guitarrista oficial mesmo. Afinal, que diabos, 3 guitarristas passaram oficialmente por aqui, sem contar os inúmeros “salvadores da pátria” em emergências (Lorenzo Flach, Gianlucca Azevedo, Felipe Ayres…). Enfim, decidimos não nos preocuparmos com isso. Pra alguém entrar numa banda já estruturada, com repertório pronto, arranjos já pensados, é uma decisão difícil, tem que ter muita sensibilidade pra conseguir imprimir suas idéias em cima disso. Então, não vamos nos estressar com isso.
Agora, estamos tocando com o maravilhoso Du Rozeira na guitarra, muito talentoso. Está sendo uma experiência bem legal, vamos ver como isso se desenrola daqui um tempo, sem ficar “fritando” sobre, não vai resolver nada. Como dizem, “é no andar da carroça que as melancias se assentam”.
Tudo isso escrevi pra mostrar que uma banda é isso: as coisas acontecem como tem que acontecer, não existe o caminho estável, “perfeito”, imutável. O caminho é o caminho, e ponto. Não só a banda é assim, né? A vida é assim. Só temos que criar nossos planos, e vivê-los, sem nos frustrarmos, conforme a vida se desenrola. Não dá pra ter controle sobre tudo. Foi ótimo ter o Thiago Chaves conosco no tempo que estivemos com ele, aprendemos muito e crescemos muito juntos. O mesmo digo para o Diego, para o Lemos, para o Thiaguinho, para nossas ex-produtoras (Lígia, Walquíria, Milena, João…). Cada saída de alguém não implica na substituição dessa pessoa: é uma nova pessoa que chega, com suas vivências anteriores e desejos futuros, sua forma de tocar, interpretar e criar. Ninguém chega pra ser “cover” de quem esteve antes naquele lugar.
Afinal, na vida também é assim, né? 😉